Hemograma: como interpretar corretamente seu exame de sangue?
Quando você recebe seu hemograma, provavelmente se questiona como interpretar corretamente seu exame de sangue. Apesar de ser um exame “simples”, termos específicos como “hemoglobina”, “hemácias” e “leucócitos” acabam gerando dúvidas.
É claro que um médico especialista, o hematologista, é o profissional que poderá analisar o hemograma de modo completo e direcionar investigações e tratamentos a partir disso. Entretanto, é possível que ao menos superficialmente você saiba como interpretar um hemograma.

O que é um hemograma ?
O hemograma completo é um exame laboratorial o qual avalia os componentes celulares do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). Através do hemograma, podem ser observadas alterações tanto numéricas quanto funcionais das células sanguíneas.
Para analisar corretamente um hemograma, é importante “dividi-lo” em três partes: eritrograma (análise dos glóbulos vermelhos), leucograma (análise dos glóbulos brancos) e plaquetograma (análise das plaquetas).
Valores de referência
É importante ressaltar que o hemograma utiliza valores de referência, ou seja, são considerados normais valores que ocorrem em 95% da população sadia. Dessa forma, 5% das pessoas sem qualquer doença podem ter valores do hemograma fora da faixa de referência (2,5% abaixo do valor de referência e 2,5% acima do valor de referência. Assim, pequenas variações para mais ou para menos não necessariamente indicam alguma doença.
Os valores de referência variam de acordo com o sexo e a idade.
Ao avaliar o seu hemograma, o primeiro passo é verificar se o resultado de cada item analisado está ou não dentro do valor de referência. Quando fora, investigação complementar por um hematologista para definir se há de fato uma alteração clinicamente significativa deve ser realizada.
Veja o exemplo de um hemograma abaixo:

Eritrograma
A avaliação da série vermelha envolve diferentes parâmetros, que vão desde a quantificação dos glóbulos vermelhos (hemáceas) e hemoglobina até a verificação da sua morfologia microscopicamente.
Os três primeiros dados contidos em um eritrograma – número de hemácias, hemoglobina e hematócrito – são analisados em conjunto. Quando estão reduzidos, indicam anemia, isto é, baixo número de glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam policitemia, ou seja, excesso de glóbulos vermelhos.
O volume corpuscular médio (VCM) determina o tamanho médio dos glóbulos vermelhos. Há tipos de anemia com glóbulos vermelhos de tamanho reduzido, tamanho normal ou aumentado. A hemoglobina corpuscular média (HCM) é um parâmetro que diz respeito ao peso da hemoglobina na hemácia; apresenta pouco valor diagnóstico. O RDW é um índice que avalia a diferença de tamanho entre as hemácias. Quando este está elevado significa que existem muitas hemácias de tamanhos diferentes circulando.
Leucograma
O leucograma é a segunda parte do hemograma, que avalia os leucócitos ou glóbulos brancos. Os leucócitos são um grupo de diferentes células, com diferentes funções no sistema imune. O valor normal dos leucócitos varia entre 4.000 a 11.000 células por microlitro. Quando os leucócitos estão aumentados, estamos frente a uma leucocitose; quando estão diminuídos, de uma leucopenia. É importante sempre avaliar qual subtipo de glóbulo branco está sendo responsável pela leucocitose ou leucopenia.
Neutrófilos
Os neutrófilos são o tipo mais comum de glóbulo branco,, representando, em média, de 45% a 75% do total circulante. Eles são especializados no combate a bactérias. A principal causa de aumento do número de neutrófilos é a presença de uma infecção bacteriana.
Eosinófilos
Os eosinófilos são responsáveis pelo combate de parasitas e por reações alérgicas. Normalmente, apenas de 1 a 5% dos leucócitos circulantes são eosinófilos.
Basófilos
Os basófilos são o tipo menos comum de leucócitos no sangue. Representam de 0 a 2% dos glóbulos brancos. Sua elevação normalmente ocorre em processos alérgicos e estados de inflamação crônica.
Linfócitos
Os linfócitos são o segundo tipo mais comum e representam de 15 a 45%. Os linfócitos compõem a principal linha de defesa contra vírus e tumores. São eles os responsáveis pela produção dos anticorpos.
Monócitos
Os monócitos normalmente representam de 3 a 10% do total de glóbulos brancos. São ativados tanto por infecções virais quanto bacterianas. Os monócitos são aumentados principalmente em infecções crônicas.
Plaquetograma
As plaquetas são os fragmentos dos megacariócitos produzidos na medula óssea, que iniciam o processo de coagulação. Quando ocorre uma lesão, plaquetas são direcionadas ao local, e ao final do processo, um trombo é formado a fim de interromper o sangramento.
O valor normal das plaquetas varia entre 150.000 a 450.000 por microlitro (uL). Quando o valor encontrado está fora desta faixa de referência temos:
- Trombocitopenia: redução do número de plaquetas no sangue;
- Trombocitose: aumento do número de plaquetas no sangue;
Em casos de trombocitopenia, até valores próximos de 50.000/uL, o organismo não costuma apresentar dificuldades para coagulação. Abaixo de 10.000 a 20.000 plaquetas/uL podem ocorrer sangramentos espontâneos.
Em casos de trombocitose, pode haver um risco aumentado de trombose.

INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dra. Aliana Ferreira Especialista em onco-hematologia e transplante de medula óssea.Médica formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fez residência médica em Clínica Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em Hematologia e Hemoterapia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e em Onco-hematologia e Transplante de medula óssea pelo Hospital Sírio Libanês.
CRM-SP nº 158591