Covid19 e Doenças Hematológicas

Desde o surgimento do vírus Sars-COV-2 causando a doença COVID-19, desafios envolvendo a fisiopatologia, o comportamento clínico e o manejo de pacientes acometidos têm sido constantes na área da medicina. Pacientes com doenças hematológicas representam um desafio ainda maior, visto poucos dados disponíveis em relação à apresentação da COVID-19 nessa população, imunossupressão associada em casos de neoplasias hematológicas e receptores de transplante de medula óssea e o impacto que a COVID-19 causou na dinâmica do tratamento do paciente com doença hematológica.
Confira abaixo algumas informações em relação à interface COVID-19 e hematologia.
COVID-19 em pacientes com neoplasias hematológicas
Pacientes portadores de neoplasias ou cânceres hematológicos pertencem ao grupo de risco para evolução desfavorável de um quadro de COVID-19. Sabe-se que estes pacientes apresentam uma resposta imune ao Sars-COV-2 significativamente reduzida, resultando em casos mais graves e com taxas de mortalidade em pacientes hospitalizados de cerca de 30%.
Neste contexto, torna-se essencial a imunização ativa através de vacinas; entretanto, sabe-se que a resposta imune às vacinas atualmente disponíveis também é inferior à população geral neste grupo de pacientes.
Fatores como o subtipo de neoplasia hematológica, bem como os tratamentos prévios a que o paciente foi exposto também interferem na resposta imune à vacinação.
O uso precoce de drogas antivirais e anticorpos anti-virais pode ser interessante com o intuito de tentar prevenir a evolução para casos graves de COVID-19 em pacientes com neoplasias hematológicas, especialmente se utilizados nos primeiros dias de sintoma.
Alterações hematológicas em pacientes com COVID-19
Pacientes infectados pelo Sars-COV-2 com alguma frequência apresentam alterações hematológicas, sejam laboratoriais e/ou clínicas, mesmo sem um diagnóstico prévio de uma desordem hematológica. Estas alterações são mais frequentes em casos graves de COVID-19.
Entre as alterações laboratoriais mais comuns, podemos citar:
– Neutrofilia: Aumento do número de neutrófilos secundário a uma reposta inflamatória sistêmica exacerbada;
– Linfopenia: Redução do número de linfócitos por efeito citopático viral direto, comprometendo a imunidade celular;
– Plaquetopenia: Redução do número de plaquetas devido à hiper-reatividade plaquetária;
– Aumentos dos níveis de D-dímero: o D-dímero é um produto de degradação de fibrina e marcador inflamatório.
Entre as alterações clínicas, distúrbios de coagulação são frequentes. Devido à combinação de disfunção endotelial, hiperativação plaquetária e hipofibrinólise, ocorre um estado de hipercoagulabilidade com risco de eventos trombóticos. Em alguns casos de COVID-19, pode ser indicado o uso de anticoagulantes profiláticos.
Vacinação contra COVID-19 em pacientes com doenças hematológicas
Em 2021, a ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) publicou recomendações oficiais em relação à vacinação contra o vírus Sars-COV-2 em pacientes com doenças hematológicas. De modo geral, todos os pacientes > 18 anos devem ser vacinados, independentemente de já ter tido a infecção e/ou apresentar sorologia positiva.
Em pacientes com neoplasias hematológicas em tratamento ativo, é importante, dentro do possível, realizar a vacinação em um período mais longe do uso de medicações imunossupressoras. Esta estratégia deve ser analisada caso a caso, avaliando-se o risco de fugir do protocolo terapêutico pré estabelecido e a possível vantagem em se aumentar o poder imunogênico da vacina, trazendo mais proteção contra a infecção pelo SARS-Cov-2.
Pacientes com doenças onco-hematológicas e receptores de transplante de células tronco hematopoiéticas constituem grupo de alto risco devido à imunossupressão associada, devendo ser vacinados conforme a última recomendação do Ministério da Saúde: “Pacientes acima de 18 anos com imunossupressão grave devem receber as três doses do esquema básico (primeira dose, segunda dose e dose adicional), além de dose de reforço quatro meses após a dose adicional.”

INFORMAÇÕES DO AUTOR:
Dra. Aliana Ferreira Especialista em onco-hematologia e transplante de medula óssea.Médica formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fez residência médica em Clínica Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em Hematologia e Hemoterapia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e em Onco-hematologia e Transplante de medula óssea pelo Hospital Sírio Libanês.
CRM-SP nº 158591